Senado aprova projeto que proíbe exposição de cigarros em locais de venda
O Senado Federal aprovou na terça-feira, 12, em votação simbólica, projeto de lei (PLS 769/2015) que amplia medidas de combate ao tabagismo. De autoria do senador José Serra (PSDB-SP), a proposta foi relatada pela senadora Leila Barros (PSB-DF) e segue agora para a Câmara dos Deputados que ainda não tem data prevista para análise e votação do texto.
Pela regra atual, de 2014, a propaganda de cigarro é proibida, mas a exposição, permitida. Leila Barros defendeu inicialmente que o cigarro não fosse exibido apenas próximo a produtos para crianças e adolescentes. “A completa proibição da exposição dos produtos fumígenos pode ter impacto negativo no emprego e na renda e representar verdadeira vantagem competitiva para produtos ilegais”, argumentou.
Mas Leila Barros acatou uma emenda do senador Eduardo Girão (PODE-CE), contra a exposição nos locais de venda. “A vedação à exposição e visibilidade de produtos fumígenos nos locais de venda parece-nos constitucional na medida em que encontra abrigo nos mais diversos dispositivos da Constituição que tratam da segurança e saúde das pessoas, inclusive consumidores e menores, ainda que venha em detrimento aos princípios da livre iniciativa e liberdade de expressão”, disse.
Integrante da bancada ruralista, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) se posicionou contra o projeto. “A minha preocupação é que os três estados do Sul hoje têm 180 mil famílias que plantam fumo, e essas famílias serão prejudicadas. Há mais de 40 mil famílias que trabalham nas indústrias do tabaco, que também serão prejudicadas”.
A secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco e de seus Protocolos (Conicq), Tania Cavalcante tem outros argumentos. “Sabemos que 87% da produção de tabaco no Brasil é exportada, ou seja, o meio de vida dos agricultores não será afetado”. Ela lembra que o projeto tramitou quatro anos no Senado como se fosse uma pauta agrícola, “mas é uma pauta de saúde pública”. Para ela, quem está preocupado com os modos de vida dos agricultores deveria defender ações como o Programa Nacional de Diversificação Produtiva em Áreas Cultivadas por Tabaco, elaborado no âmbito da Convenção-Quadro, como alternativa econômica.
A exposição dos produtos do tabaco, o uso de sabores nos cigarros, entre outros são métodos que garantem a captura de crianças e adolescentes para o fumo, o que ajuda a explicar o porquê de o tabagismo ser uma doença pediátrica.
Além disso, em 2017, o INCA, que exerce a Secretaria Executiva da Conicq no Brasil, divulgou estudo sobre os custos do ato de fumar: o Brasil tem prejuízo anual de R$ 56,9 bilhões com o tabagismo. Desse total, R$ 39,4 bilhões são gastos com despesas médicas e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados à perda de produtividade, causada por incapacitação de trabalhadores ou morte prematura. A arrecadação de impostos com a venda de cigarros no País é de R$ 12,9 bilhões, o que gera saldo negativo de R$ 44 bilhões por ano. “Não faz sentido defender a comercialização do cigarro do ponto de vista econômico e social”, constata Tania Cavalcante.