Desfile da marca maranhense Têka Arts traz a chita, tecidos crus e de algodão em modelagens de alfaiataria

Desfile da marca maranhense Têka Arts traz a chita, tecidos crus e de algodão em modelagens de alfaiataria

Ibùdó bokélé, agó bokélé* nas cantarias do Beco : uma referência à ancestralidade dos quilombos e sua contemporaneidade na conquista por liberdade e garantia de direitos humanos

*Acampamento secreto, quilombo: lugar secreto em que ficavam ou para onde iam os negros escravizados  que fugiam, normalmente encoberto ou escondido em meio ao mato.  Assim se pode traduzir as palavras em Iorubá do título do 16º Desfile Têka Arts, que traz referências destes locais, que por muito tempo foram refúgios de homens, mulheres, crianças e idosos negros e negras, na luta e conquista por liberdade. 

Os Quilombos resistem, sejam eles rurais ou urbanos. O povo dos quilombos resiste, quer esteja ele na lida da quebra do coco babaçu; nos blocos de afoxé; nas universidades, presidências de Tribunais de Justiça, nos terreiros de matriz africana; mandando uma rima de Rap nas quebradas; em um samba de bambas ou entoando aquela toada mais linda. Este é o povo guerreiro, criativo e revolucionário que a estilista maranhense, Têka Castellano homenageia, em mais um desfile nas escadarias do Beco Catarina Mina, dia 07, às 20h30, no Centro Histórico de São Luís.

Têka, que ressignificou aquele tecido, muitas vezes utilizado somente na confecção de roupas e adereços juninos – a Chita -, mais uma vez traz uma coleção em que o tecido está presente, desta vez compondo looks com peças de alfaiataria, como saias, calças, blusas de botão. Junta-se a ela, a riqueza das fibras naturais, em tecidos crus com detalhes em botões de madeira, madrepérola, laços e nós. Detalhes que remetem à ancestralidade, quando as roupas eram tecidas e costuradas à mão e as pessoas separavam aquela “camisa social” para as datas mais especiais. Uma prática que vem voltando.  As camisas de botões e outras peças de alfaiataria vêm ganhando as ruas  nos corpos da moçada “descolada”, que quer estar sempre com um figurino original, vestindo menos peças industrializadas, sintéticas e padronizadas.

A coleção traz roupas leves, confortáveis e também tecidos resistentes, mais encorpados. Completados por turbantes, que  adornam tanto mulheres quanto homens, os tornando verdadeiros deuses e deusas africanos – ou de onde quer que se sintam ser – os modelos irão representar o empoderamento de um povo, que tem seu simbólico representando, não só nos adornos de cabeça, mas em corpos e mentes livres, prontos para revolucionar. É isso que veremos nas escadarias que tantas histórias têm para contar, inclusive a de Teka: Resistência, superação, criatividade e ousadia.

A estilista, que já foi conferir de perto a alta costura francesa, começou a criar suas  roupas ainda criança, com 12 anos, quando pegava os lençóis da mãe e fazia peças na máquina de costura, as vendendo para as amigas, já apresentando um espírito empreendedor. Logo foi tomando gosto pela arte, que aprendeu só em ver a vizinha costurando. Muito tempo se passou e o desfile que promove, anualmente, é em comemoração ao aniversário da sua loja, que fica no mesmo Beco Catarina Mina, e  também uma oportunidade de reunir os amigos, os convidando para desfilar e apresentar as suas novas criações.

“Sempre gostei de usar peças diferentes, procuro um diferencial. Amo o meu trabalho e em meus desfiles misturo pessoas de várias idades, para mostrar que qualquer pessoa pode usar uma roupa alternativa.”, esclarece Têka.

Todo ano é escolhido um tema para o desfile, e o deste é Quilombo. Coincidentemente, o Maranhão perdeu duas pessoas importantes para a cultura do estado e referências para o povo dos quilombos: a quebradeira de coco e liderança quilombola, do Quilombo de Monte Alegre, de São Luiz Gonzaga do Maranhão, Maria de Jesus Ferreira Bringelo, conhecida carinhosamente como Dona Dijé e o Pai de Santo e multiartista, Álvaro José dos Santos Souza, Neto de Nanã, do quilombo urbano da Liberdade. Representando todos os moradores das cerca de 700 comunidades de quilombos do Maranhão (reconhecidas pela Fundação Palmares), o desfile irá homenagear Dona Dijé e Neto de Nanã ( in memorian) e celebrar com o público a vida e possibilidade de evolução que podemos construir juntxs, a fim de que tenhamos um país com mais respeito étnico-social e oportunidades iguais para todxs.

A noite reserva surpresas e conta com a participação de Dona Roxa e as Caixeiras do Divino Espírito Santo, Grupo de Curimba Nosso Canto de Encantarias, Mandigueiros do Amanhã e discotecagem do DJ Pedro Dreadlock, garantindo o axé musical. A produção é de Maniry Vasconcelos e o desfile é apresentado por Ivan Madeira. Desfilam esta noite os/as modelos Walquiria Lima, Ana Patrícia Silione, Bárbara Cardoso, Zaina Holanda, Olga Barros, José  de Oliveira,  Luciano Teixeira, Abimaelson Santos, Gilmar Freitas, Nando Marley e as crianças Jailson Júnior, Maria Fernanda e Maria Malcher.  Além de vestir Têka Arts, eles usam acessórios em prata Pratas Artesanais.

Que a escadaria esteja coberta de axé para os herdeiros do povo de Angola, Congo, Bengela, Monjolo, Cabinda, Mina, Quiloa, Rebolo, Manu, Bantu – Iorubá passarem plenos de auto-estima, beleza e vestidos de Têka Artes para ganhar o mundo!

Um salve à produção de moda do Maranhão!

Salve Ganga Zumba! Salve Zumbi e o Quilombo de Palmares e todas as Terras de Preto, Quilombos do Maranhão!

”Eu quero ver quando Zumbi chegar. O que vai acontecer.”

Serviço

O quê: 16º Desfile Teka Arts. Tema: Quilombo –  Bùdó bokélé, àgó bokélé* nas cantarias do Beco

Onde: Escadaria do Beco Catarina Mina – Praia Grande/ São Luís-MA

Quando: Dia 07/12(sexta-feira), às 20h30

Informações: 98 98141 3859/ 982062355/ 99168 9670 (whatsapp)

Entrada livre.

Um pouco da história

A loja Têka Arts teve início no ano de 1998, em Alcobaça- Bahia, o local onde a proprietária abriu sua primeira loja. Em 2002 registrou sua empresa, atuando no mercado de moda alternativa no Maranhão há 17 anos, sempre lançando peças de roupas, bijuterias e acessórios com toque artístico-artesanal. Em 2003 a loja passou a realizar o Desfile de Roupas Alternativas em que apresenta cenicamente a coleção anual da estilista Têka Castellano, proprietária da loja e responsável por toda a criação e design da produção. Localizada no Centro Histórico de São Luís, no Beco Catarina Mina – Praia Grande, a loja é frequentemente visitada por turistas, possui vários clientes de outras regiões  do país e de outros países. Têka Artes já exportou peças para França, onde a estilista também já realizou exposição.  Porto Alegre, Florianópolis e Argentina, foram outros locais por onde a moda Têka Arts também já passou.​

As criações de Têka Arts permitem revisitar  tendências e estilos, voltando-se para a produção de peças diferentes do circuito da moda tradicional. Chamamos essa tendência de moda alternativa e ela permite a identificação  das características culturais  local de comunidades e etnias, expressadas na criação de roupas e acessórios para o cotidiano.  As roupas alternativas, apresentadas pela estilista, baseiam-se na estética africana e indígena, inspirados na cultura popular maranhense, com suas festas e ritos. Nessa identificação, a artista utiliza-se de matéria prima pouco valorizada no circuito de moda tradicional:  são retalhos, chita, tecidos africanos, fibras, sementes, tecido cru e confecção artesanal, que marcam o estilo e a tendência da estilista Têka. ​

Têka Arts

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