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Agressões, fofocas e corrupção. Assim está o partido de Bolsonaro

Agressões, fofocas e corrupção. Assim está o partido de Bolsonaro

Nas últimas eleições, o PSL passou de um para 52 deputados, a maioria exóticos, e não soube lidar com o deslumbramento do poder. O presidente desculpa-se: “Para concorrer, fui pegando qualquer um”.

Em reunião no dia 6 de outubro de 2018, véspera das eleições, os principais candidatos do PSL do estado do Rio Grande do Sul admitiam ter condições de eleger um deputado federal e um deputado estadual pela primeira vez na história. No dia seguinte, o PSL festejaria eufórico a eleição de três federais e quatro estaduais.
Em reunião no dia 8 de abril de 2019, ecoavam pelo Palácio Paratini, sede do governo daquele estado, os gritos do deputado federal eleito pelo PSL Bino Nunes, um controverso ex-apresentador de televisão, para os deputados estaduais do seu partido Vilmar Lourenço, Rui Irigaray, Mário Andreuzza e Luciano Zucco. “Trouxa! Bobalhão! Idiota! Palhaço!”
“A avaliação nos bastidores do PSL”, escreve a propósito o Zero Hora, maior jornal da região, “é que a vitória nas urnas deslumbrou os principais expoentes do partido no estado. O sucesso inesperado fez Bibo [cabeça de lista federal], de um lado, e Zucco [cabeça de lista estadual], do outro, se considerarem responsáveis pelo êxito eleitoral”.
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Mas o problema não é exclusivo do diretório gaúcho [gentílico do Rio Grande do Sul] do partido do atual presidente da República. É nacional. Até Jair Bolsonaro decidir concorrer ao Planalto pelo PSL, o partido era insignificante. Literalmente de um dia para o outro tornou-se um dos maiores do Brasil.
Em números: fundado em 1994, o Partido Social Liberal, de seu nome completo, concorreu às eleições de 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, elegendo entre zero e um deputado federal. Senadores, nem um. Desde dia 7 de outubro de 2018, 52 deputados federais, quatro senadores do PSL e centenas de deputados estaduais convivem nos mesmos grupos parlamentares.
Além do caso citado, na Paraíba, o deputado federal Julian Lemos, coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste e amigo pessoal do presidente, é acusado de autoritarismo. Lemos, que em plenário já encostou a cabeça a um deputado de oposição e é acusado de ter agredido a mulher duas vezes e a irmã uma, foi o alvo de uma nota do deputado estadual Moacir Rodrigues e do grupo Direita Paraíba a exigir “eleições internas e diálogo”. “Mas infelizmente estamos sob a direção de um “coronel””, afirmaram os contestatários, referindo-se ao sentido nordestino do termo, que significa “cacique”.
Fundado em 1994, o Partido Social Liberal, de seu nome completo, concorreu às eleições de 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, elegendo entre zero e um deputado federal
Um coronel de facto, o deputado estadual André Azevedo, já abandonou mesmo o partido no Rio Grande do Norte, acompanhado de um vereador da capital, Natal. Embora militar, queixa-se do “estilo quartel” da direção do PSL potiguar [gentílico do Rio Grande do Norte]: “Aqui não é o exército, aqui não bato continência”, garantiu. A direção é composta por um general, por um brigadeiro e por outro coronel, todos aliados do deputado federal eleito pelo estado, Eliéser Girão, um general na reserva.
“Para disputar as eleições eu fui pegando qualquer um”, confessou Bolsonaro, em entrevista à revista Veja, a propósito dos exóticos grupos parlamentares do PSL.
Essa condescendência notou-se sobretudo em São Paulo, onde o partido elegeu uma controversa jornalista acusada de plágio, um ator pornográfico, um príncipe herdeiro da coroa brasileira e o herdeiro do próprio presidente, Eduardo Bolsonaro, entre outras figuras já comparadas ao elenco de um reality show de sub-celebridades.
Joice Hasselmann, a plagiadora, envolveu-se em brigas públicas com Carla Zambelli, a deputada com quem disputa o título de “Bolsonaro de saias”, terminadas com ofensas à inteligência uma da outra. “Eu estou preocupada com o país, e não com curtidas em tweets ou lives porque eu sou inteligente, já você…”, disse Hasselmann.
“Sonsa” e “louca” foram os insultos que Joice recebeu, entretanto, de Eduardo Bolsonaro. O terceiro filho presidencial reagia à acusação dela de que só havia sido eleito “graças ao apelido” e de se comportar de forma “infantil”.
Os dois líderes do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir e Major Vítor Hugo, acusam-se de conspirações mútuas
Por sua vez, Alexandre Frota, o ator pornográfico, já pediu a demissão de Eduardo da liderança do PSL em São Paulo e revela-se dia após dia mais crítico do próprio partido e do governo.
Essa falta de coesão – os dois líderes do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir e Major Vítor Hugo, acusam-se de conspirações mútuas – prejudica até os principais desígnios do governo, como a aprovação da reforma da previdência. O texto sofreu atrasos porque a bancada, com ligações profundas ao lóbi da segurança pública, quis beneficiar polícias federais, civis, rodoviários, penitenciários e até a guarda legislativa.
“De partideco a uma das maiores bancadas da Câmara, o PSL tornou-se uma amálgama de inexperiência política com ativismo digital, excesso de ideologia, deslizes éticos e práticas supostamente ilegais”, escreveu Julianna Sofia, colunista do jornal Folha de S. Paulo, num artigo titulado “PSL com P de problema”.
Para o governo, Bolsonaro escolheu dois ministros do partido. Um deles, Gustavo Bebianno, foi o primeiro a cair após braço-de-ferro online com outro filho do presidente, Carlos Bolsonaro, e na sequência de um escândalo de corrupção envolvendo o outro ministro indicado pelo PSL. Marcelo Álvaro Antonio, titular do Turismo, é acusado de liderar um esquema de desvio de recursos públicos destinados a candidaturas femininas nas últimas eleições no estado de Minas Gerais. Apesar da prisão de assessores do ministro, o presidente da República resiste a demiti-lo.
Esse escândalo – criar candidatas fantasmas e desviar o dinheiro – chegou agora ao estado de Pernambuco, onde fica a sede do presidente nacional do PSL e seu fundador Luciano Bívar.

DN

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