Parcialmente dependente do chamado turismo religioso, a pequena cidade de Abadiânia (GO) já sente o impacto econômico das denúncias contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Segundo o prefeito de Abadiânia, José Aparecido Alves Diniz (PSD), ao menos 150 funcionários de pousadas e hotéis foram demitidos nos últimos dias.
“Ainda não temos um balanço oficial porque essas demissões não são informadas à prefeitura, mas, informalmente, soubemos que, nos últimos dias, já houve algo em torno de 150 demissões”, disse Diniz à Agência Brasil.
Desde que as acusações contra o médium começaram a vir a público, no último dia 7, centenas de mulheres de todo o país procuraram as autoridades para denunciar João de Deus pela prática de crimes sexuais. Antes de ser preso em caráter preventivo, no último dia 16, o médium esteve uma única vez no centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, onde permaneceu por menos de dez minutos e saiu dizendo ser inocente.
A partir daí, o movimento vem diminuindo dia após dia, prejudicando o comércio local. Principalmente os estabelecimentos instalados ao longo da avenida onde funciona o centro espírita em que, desde 1976, João de Deus oferece consultas, aconselhamento e cirurgias espirituais, além de vender produtos que ele próprio prescreve a seus seguidores.
Segundo funcionários da Casa Dom Inácio, entre 3 mil e 5 mil pessoas são atendidas semanalmente. Aproximadamente 25% destes frequentadores vêm do exterior. Quase a totalidade dos demais atendidos mora em outras cidades.
De acordo com o prefeito, o centro espírita emprega 40 pessoas e gera aproximadamente 1,2 mil postos de trabalho no município.
Por telefone, funcionários de pousadas, que pediram para não ter seus nomes divulgados, confirmaram que alguns estabelecimentos estão fechando as portas temporariamente, dando férias coletivas aos funcionários ou mesmo demitindo empregados. Explicaram, no entanto, que o número de frequentadores da Casa Dom Inácio habitualmente diminui nesta época do ano. Principalmente entre os estrangeiros, já que muitos retornam aos seus países de origem para passar as festas com parentes e amigos. A apreensão das pessoas ouvidas pela reportagem se deve mais aos cancelamentos de reservas para 2019.
Ao admitir ainda estar surpreso com a situação, o prefeito está buscando ajuda nos governos federal e estadual. Hoje (20), Diniz esteve no Ministério das Cidades, em Brasília. E já planeja retornar em janeiro a fim de pedir apoio do futuro ministério que reunirá, em uma só pasta, os atuais ministérios da Fazenda e da Indústria e Comércio Exterior.
“Vamos atrás de alternativas. Temos que levar indústrias e outras atividades que gerem emprego para o município”, disse Diniz logo após deixar o Ministério das Cidades. Para o prefeito, a cidade a meio caminho entre Brasília e Goiânia tem potencial para atrair atividades industriais e atrativos turísticos como a proximidade com o Lago Corumbá. “É um sonho nosso investir e aproveitar a infraestrutura turística já existente”, acrescentou o prefeito que, nas últimas eleições, derrotou o candidato apoiado por João de Deus.
De acordo com a prefeitura, há 69 pousadas e hotéis devidamente regularizadas funcionando na cidade, mas o total de estabelecimentos pode chegar a 90, se levadas em conta as residências transformadas em pensões improvisadas.
AgB