Tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal provoca reação e diminui Moro
A tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federalprovocou reação da instituição e contribuiu para minar a autoridade do ministro da Justiça, Sérgio Moro, alvo de vazamento de mensagens desde junho.
Na última quinta-feira (15), Bolsonaro disse que Ricardo Saadi deixaria a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro por questões de produtividade. A substituição já estava prevista, de acordo com a instituição, para daqui a alguns meses.
No dia seguinte, o presidente contestou o substituto escolhido pela direção-geral e deu como certa a nomeação de Alexandre Silva Saraiva, com quem teria mais proximidade. A PF, contudo, anunciou o nome de Carlos Henrique Oliveira Sousa. Historicamente, essa escolha cabe ao diretor-geral da instituição.
Ao comentar a situação na manhã de sexta-feira (16), Bolsonaro disse que teria a palavra final. “Pergunta para o Moro. Já estava há três, quatro meses para sair o cara de lá. Está há três, quatro meses. O que acontece, quando vão nomear alguém, falam comigo. Ué? Eu tenho poder de veto. Ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o que entende e tudo bem?”, disse a jornalistas.
O presidente recuou horas depois. ”Tanto faz para mim. Eu sugeri o de Manaus, mas, se vir o de Pernambuco, não tem problema não”, afirmou.
Apesar do recuo, o episódio provocou incômodo na corporação. Houve uma ameaça geral de demissão de superintendentes. Segundo o jornal O Globo, o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, também cogitou deixar o cargo.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, Saadi estaria sendo usado como um bode expiatório devido a uma insatisfação do presidente com a investigação de elos entre milícias do Rio e a família presidencial no caso envolvendo o ex-policial militar Fabrício Queiroz, apesar de o superintendente não ter ingerência direta na apuração.
Integrantes da oposição, como o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), criticaram também outros sinais de ingerência em órgãos de fiscalização, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Após sair do Ministério da Justiça para o da Economia, o colegiado vai passar a responder ao Banco Central.